domingo, 8 de janeiro de 2012

Recriação da cena “O Parvo” do Auto da Barca do Inferno

 A propósito do texto "Um Velho em Arzila" de Manuel Alegre

Grupo: Bárbara, Gonçalo, Nanci e Renato (9ºA)

Apresenta-se no Cais um Velho, repetindo o famoso verso d’ “Os Lusíadas”.

Velho: “As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”

Chegando à barca do Inferno:

Diabo: Ora, quem és tu?
Velho: “As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”
Diabo: Irra! Porque o dizes tantas vezes?
Velho: Não sei.
Diabo: Não sabes? Se sabes esse, deverás saber os outros.
Velho: Ora sei pois! Quem disse que não?!
Diabo: Tu!
Velho: Eu? Eu não!
Diabo: Calai-vos! Quem sois vós?
Velho: Eu, sei lá!
Diabo: Não sabes quem és?
Velho: Já disse que não! “ As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”
Diabo: E que coisa é essa que trazes aí à volta do teu pescoço? Será símbolo dos teus pecados?
Velho: É a cruz, a de Cristo! Encontrei-a no sítio, onde costumava estar sentado todos os dias.
Diabo: Cruz! De Cristo! Isso aqui não entrará! Tira isso e o teu pé porás cá!
Velho: Com o esquerdo ou com o direito?!
Diabo: Calai-vos novamente, se não deixais-me doente!

Do outro lado do Cais o “Parvo”, Joane, dizia:

Parvo: Olha, Aanjo, ali, na barca do cornudo!
Anjo: Quem é tal alma?
Parvo: É o Velho de Arzila, o que se costumava sentar todos os dias na torre lá da sua cidade.
Anjo: E que tem de especial?
Parvo: Ele é um tolo, é daqueles que fala, fala e fala, mas nunca diz nada de jeito.
Anjo: Então, chama-o até nós.
Parvo: Ó barbas! UH UH! Eh! Ó totó! Anda daí!
Velho: “As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”
Parvo: Vês? Não te disse. Aquele velhote é um tolinho!
Anjo: Velho, porque dizeis isso?
Velho: Não sei! Simplesmente digo! “ As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”
Anjo: AH! Então é isso. Sabes que podes contar-me..
Velho: O quê? “As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”
Anjo: A razão pela qual dizes, após tantos anos, esse mesmo verso.
Velho: (Chorando) Foi um final de vida muito triste…Só eu fiquei, só eu!
Anjo: Como “só”?
Velho: Minha mulher, minha mulher morreu.
Parvo: Ela foi-se, ela foi-se… Pensava que voava! Ahaha! (imita um pássaro)
Velho: Naquele dia, enquanto ela visitava aquela maldita torre, por descuido e em breves instantes, tropeçou e caiu da torre.
Anjo: E então?
Velho: Estas foram as últimas palavras que me dirigiu, na última vez que falámos: “ As armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados, as armas e os barões assinalados.”
Anjo: Já entendo... és apenas um homem que sofre todos os dias.
Velho: Só esta cruz me faz lembrar a minha tão adorada mulher.
Anjo: Meu querido, em princípio entrarás na minha barca, mas por agora junto do Parvo me servirás. Esperemos por mais alguém, e logo veremos se tens lugar.

Recriação da cena “O Parvo” do Auto da Barca do Inferno

A propósito do texto "Covardia" de José Gomes Ferreira


Grupo: Bernardo, Maria Inês, Pedro e Sónia (9ºA)


O Sinaleiro chega ao cais, trazendo uma criança aos seus ombros, e dirige-se à Barca Infernal.

Diabo –      Quem sois vós?
Sinaleiro –  Suponho que seja apenas mais um a chegar aqui sem atingir os seus objetivos.
Diabo –      E que fazeis com essa criatura aos ombros?
Sinaleiro –  De que criatura falais vós? Da doce criança de que me faço acompanhar?
Diabo –      Sim, mas adiante. Há pouco, falaste de uns objetivos por atingir…
Sinaleiro –  É verdade. Há cerca de um ano, um anjinho para esta terra passou. Esse anjinho era o meu filho e nunca mais o voltei a ver…
Diabo –    Já me lembro desse traquina. Anjinho? De anjinho não tinha nada. E, por isso, aqui embarcou. Vem comigo e eu juntar-vos-ei.
Sinaleiro - Se é essa a condição, estou disposto a sacrificar-me.
Parvo –    (aparte) C’um caneco! Este palerma está a iludir-se. Como se alguma vez o Diabo fosse dizer uma única verdade!.

                Quando o sinaleiro se prepara para entrar na Barca Infernal, o Parvo intervém.

Parvo –      Houlá, burro de carga! Está quieto!
Sinaleiro – Quem? Eu?
Parvo –   Sim, tu! Acreditas mesmo que esta besta está a contar a verdade? Que a tua criancita entrou nessa barca da aldrabice?
Sinaleiro – Porque mentiria ele? O que ganha com isso?
Parvo –     Mais uma alma para a sua prisão.
Sinaleiro – Como podereis ter tanta certeza?
Parvo -     Vem comigo até à barca do sonho e verás.

                O Sinaleiro e o Parvo dirigem-se à Barca da Glória.

Sinaleiro – Então, é verdade o que ele me disse? O Diabo mentiu-me?
Anjo –     Sim, ele mentiu-te. A alma do teu amado filho não embarcou com ele. Aquela pura criança foi merecedora do Céu e por isso embarcou na Barca da Glória.
Sinaleiro – Oh, muito obrigado. Poderei ir ter com ele?
Anjo –     Sim, tu és puro, honesto e merecedor do Pparaíso, por isso virás comigo e eu levar-te-ei ao teu adorado filho.
Sinaleiro – Que felicidade! Mal posso esperar por vê-lo. Não sei como lhe agradecer.
Anjo –       Não tens que agradecer. Fizeste boas opções durante a tua vida. Foste paciente e bondoso, quando todos te julgavam e assim marcaste o teu caminho até aqui.

 

Recriação da cena “O Parvo” do Auto da Barca do Inferno

         Os vossos colegas escreve ram textos em que recriaram a cena do Parvo do "Auto da Barca do Inferno" de Gil Vicente. Aqui ficam alguns dos textos por eles criados.


  A propósito do texto “O Vagabundo na Esplanada” de Manuel da Fonseca

 Grupo: Daniela, Ricardo, Sara e Tiago (9ºA)


Chega o Vagabundo ao Cais e diz ao Arrais do Inferno:
VAG.     Hou da barca!
DIA.      Quem é vossa excelência?
VAG.     Que importa isso?

   Que barca é esta?
DIA.      A barca onde vós entrareis.
VAG.     Já está pois decidida a minha sentença?
DIA.      Segundo lá escolhestes,
  Cá pagareis.
VAG.     E que foi que escolhi?
           O Inferno não será para mim,
           que com humildade vivi.
DIA.      Pois o dizes tu...
            Mas entra cá.
            Decerto os teus farrapos
   irão conspurcar aqueloutra barca,
   a imaculada barca do Anjo…!
VAG.     Que interessa isso,
            se não dita aquilo que fui?
DIA.      Mas pensas que o Anjo te aceitará?
            Pois com a tua preguiça,
   vagabundo te tornaste…
VAG.     Não foram as escolhas
            que me tornaram o que fui em vida.
            Foi sim a vida
            que me tornou aquilo que sou.
            Portanto, lutarei pela minha justiça.

E dirige-se o Vagabundo à Barca da Glória.

ANJO    Ó homem de Deus,
            a estas bandas a morte te trouxe…
            Achas-te merecedor de aqui entrar?
  Diz-me da tua justiça.
VAG.     Essa função não me compete a mim.
            O que fiz em vida já foi feito.
   Arcarei com as consequências
   que aqui me forem impostas.
   Por isso, diz-me tu da tua justiça…
ANJO    Sei que esses farrapos
            cobrem um homem honesto
            e caberão nesta barca
            tal como a tua humildade.
            Então, embarca com destino ao Paraíso.
VAG.     Se assim mereço,
            embarcarei com gosto.
Assim embarca e aguarda a viagem rumo ao seu destino.