domingo, 21 de novembro de 2010

Vela Doirada


A luz trémula
De uma vela doirada…
Desfazia-se a vela
Chorando, gotejando…


Mas com ela lançava
As palavras para o ar
Num poema, nem de amor,
Nem de rir, nem de chorar.


A vela destroçada
Cada vez mais destruída,
Enviesada,
Perdia a luz que iluminava
A escrivaninha acastanhada.


Olhando a sua silhueta,
Sem forma nem sentido
Ia morrendo a chama,
Deixando o doirado esbatido.


Pela última vez
A vela gotejou,
Cada vez mais trémula,
Menos nítida…
Rouca de tanto brilhar,
Destroçada, cansada,
A vela acabou por apagar.

 Inês Camarinha Lopes

domingo, 14 de novembro de 2010

Uma viagem de sonho

Estava quase na hora de acabar a aula de História e falava-se da mitologia grega… uma chatice, como sempre. Era uma manhã normal, num dia normal, com rotinas atrás de rotinas. A professora tinha ido à arrecadação buscar qualquer coisa, enquanto nós líamos um texto sobre a musa Clio. De acordo com o texto, era ela a tecedora da tapeçaria da história e, após um terrível equívoco, foi privada de ambrósia por quatrocentos anos, o que não era um castigo dissuasor de novas distracções. E eu a perceber o mesmo…
Foi nesse momento que tudo começou a ficar branco e iluminado. Esfreguei os olhos pois provavelmente era por causa do sono. Mas não, tudo continuou na mesma e comecei a ficar aflito. Logo começou a escurecer e eu, juntamente com a minha turma, reparámos que estávamos no convés de um barco, uma nau enorme, escura, com pessoas assustadas a olhar para nós.
A aflição e pânico estavam presentes tanto nas nossas faces como nas daquelas pessoas de vestimentas antigas e rostos queimados pelo sal e pelo sol, que deviam ser a tripulação da nau.
Ficámos todos quietos, em pânico e, quando as coisas começaram a acalmar, decidimos entrar em diálogo com os estranhos que cochichavam entre si:
- O… Olaa… Olá… -disse um colega meu a medo – Quem são vocês?
E da tripulação responderam:
- Somos portugueses e vamos à descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Então, ficámos mais descansados por falarem a nossa língua.
Depois começámos a conversar com eles e trocávamos acessórios e instrumentos. Eles não pareciam perigosos e até ficavam admiradíssimos com os nossos telemóveis e com o nosso dinheiro. Exploravam curiosamente as nossas coisas e, pensando que fossem simples papéis, rasgavam as nossas notas.
Após algum tempo, tudo começou a ficar outra vez branco e voltámos à aula mesmo a tempo de a professora vir da arrecadação e não notar nada. Só que, faltavam-nos os telemóveis, o dinheiro e, em sua substituição, tínhamos algumas armas e acessórios da tripulação. Pensámos que tivesse sido um sonho, pois ao fim do dia já quase não nos lembrávamos do sucedido. Mas, o que não foi fácil foi explicar os objectos que tínhamos connosco.

Bruno Sousa

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pranto de Saudade

Do Norte longínquo,
Da brancura profunda,
Do fogo ardendo no gelo,
Veio a sublime escrava.

Fui arrebatado pela aparição.
A graciosa deusa surgiu,
Por entre uma subtil magia,
E logo fez seu o meu coração.
                                                                                                                
A sua extrema beleza
Apagada pela melancolia.
O olhar no céu perdido.
Nada a demovia.
E eu mantinha num eterno pranto
O meu coração abatido.

Sábios de todo o mundo
Ao palácio acorreram,
Mas nunca a causa ou cura
Lhes ocorreram.

Ela definhando,
E eu não vendo fim à sua maleita.
Por fim, um velho do Norte
Achou o remédio para a minha eleita.
A sua extrema beleza
Apagada pela melancolia.
O olhar no céu perdido.
Nada a demovia.

Era a saudade.

A saudade da sua terra
Coberta pelo branco altivo.

Pela minha terra fora
Amendoeiras mandei plantar,
Para que, quando florescessem,
A minha amada pudesse voltar a brilhar.

A sua extrema beleza
Apagada pela melancolia.
O olhar no céu perdido.
Nada a demovia…
Excepto aquelas amendoeiras em perfloração,
Que marcam o Algarve, a minha terra,
Pela cura da deusa do meu coração.


Poema escrito o ano passado pela Sara Tavares do 8ºA, a propósito da Lenda das Amendoeiras