Estava quase na hora de acabar a aula de História e falava-se da mitologia grega… uma chatice, como sempre. Era uma manhã normal, num dia normal, com rotinas atrás de rotinas. A professora tinha ido à arrecadação buscar qualquer coisa, enquanto nós líamos um texto sobre a musa Clio. De acordo com o texto, era ela a tecedora da tapeçaria da história e, após um terrível equívoco, foi privada de ambrósia por quatrocentos anos, o que não era um castigo dissuasor de novas distracções. E eu a perceber o mesmo…
Foi nesse momento que tudo começou a ficar branco e iluminado. Esfreguei os olhos pois provavelmente era por causa do sono. Mas não, tudo continuou na mesma e comecei a ficar aflito. Logo começou a escurecer e eu, juntamente com a minha turma, reparámos que estávamos no convés de um barco, uma nau enorme, escura, com pessoas assustadas a olhar para nós.
A aflição e pânico estavam presentes tanto nas nossas faces como nas daquelas pessoas de vestimentas antigas e rostos queimados pelo sal e pelo sol, que deviam ser a tripulação da nau.
Ficámos todos quietos, em pânico e, quando as coisas começaram a acalmar, decidimos entrar em diálogo com os estranhos que cochichavam entre si:
- O… Olaa… Olá… -disse um colega meu a medo – Quem são vocês?
E da tripulação responderam:
- Somos portugueses e vamos à descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Então, ficámos mais descansados por falarem a nossa língua.
Depois começámos a conversar com eles e trocávamos acessórios e instrumentos. Eles não pareciam perigosos e até ficavam admiradíssimos com os nossos telemóveis e com o nosso dinheiro. Exploravam curiosamente as nossas coisas e, pensando que fossem simples papéis, rasgavam as nossas notas.
Após algum tempo, tudo começou a ficar outra vez branco e voltámos à aula mesmo a tempo de a professora vir da arrecadação e não notar nada. Só que, faltavam-nos os telemóveis, o dinheiro e, em sua substituição, tínhamos algumas armas e acessórios da tripulação. Pensámos que tivesse sido um sonho, pois ao fim do dia já quase não nos lembrávamos do sucedido. Mas, o que não foi fácil foi explicar os objectos que tínhamos connosco.
Bruno Sousa